sábado, 5 de março de 2016

Na Floresta



Na floresta não existe nem rebanho nem pastor  
Quando o inverno caminha
Segue seu distinto curso como faz a primavera
Os homens nasceram escravos daquele que repudia a submissão  
Se ele um dia se levanta e lhes indica o caminho  
Com ele caminharão
 
Dá-me a flauta e canta  
O canto é o pasto das mentes  
E o lamento da flauta perdura mais que rebanho e pastor.
Na floresta não existe ignorante ou sábio.
Quando os ramos se agitam a ninguém reverenciam
O saber humano é ilusório como a serração dos campos que se vai quando o sol se levanta no horizonte.
 
 
Dá-me a flauta e canta
O canto é o melhor saber
E o lamento da flauta sobrevive ao cintilar das estrelas.

Na floresta só existe lembrança dos amorosos.
Os que dominaram o mundo e oprimiram e conquistaram os seus nomes são como letras dos nomes dos criminosos.  
Conquistador entre nós é aquele que sabe amar.
 
Dá-me a flauta e canta
E esquece a injustiça do opressor.
Pois o lírio é uma taça para o orvalho
E não para o sangue.
Na floresta não há crítico nem censor
Se as gazelas se perturbam quando avistam o companheiro
a águia não diz: que estranho.
Sábio entre nós é aquele que julga estranho apenas o que é estranho.
 

Ah, dá-me a flauta e canta
O canto é a melhor loucura e o lamento da flauta sobrevive aos ponderados e aos racionais. 

Na floresta não existem homens livres ou escravos.
Todas as glórias são vãs como borbulhas na água.
Quando a amendoeira lança suas flores sobre o espinheiro não diz:
“Ele é desprezível e eu sou um grande Senhor.”
 

Dá-me a flauta e canta que o canto é glória autentica
E o lamento da flauta sobrevive
Ao nobre e ao vil.
Na floresta não existe fortaleza ou fragilidade
Quando o leão ruge não dizem:“Ele é temível.”
A vontade humana é apenas uma sombra que vagueia no espaço do pensamento e o direito dos homens fenece como folhas de outono.
 

Dá-me a flauta e canta
O canto é a força do espírito
E o lamento da flauta sobrevive ao apagamento dos sóis.

Na floresta não há morte nem apuros.
A alegria não morre quando se vai a primavera.
O pavor da morte é uma quimera que se insinua no coração,
pois quem vive uma primavera é como se houvesse vivido séculos.
 

Dá-me a flauta e canta
O canto é o segredo da vida eterna
E o lamento da flauta permanecerá após findar-se a existência.

 

Kalil Gibran




Minha poesia favorita. Passa ensinamentos e a sabedoria da floresta que nós humanos desconhecemos mas precisamos aprender.
Tenham um iluminado fim de semana!
Beijos
Flor de Liz

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